Homero Carvalho
Vigencia de la injusticia
Para colmo de mis desgracias hoy
cumplo sesenta años. Seis décadas que las sufrí intentando mejorar mi vida sin
lograr adquirir ni un metro de tierra donde caerme muerto. Toda esa vida de mis
días oscuros la gasté trabajando duro de estación a estación, sin descanso,
jornaleando donde podía, sin seguro social ni sindicato que valga, trabajando
aquí y allá, en todas partes y en ningún lugar. Y miren a mis hijos ¡los
pobres! Dios sabe por dónde andarán. Ellos se cansaron de comer su diario plato
de angustia y simplemente se fueron, sin despedidas ni abrazos, se fueron. A mi
mujer se le secaron las lágrimas y se le erosionó la piel transformándose en un
duro y seco pergamino de cordero. Tan vacía quedó —la que un día se fugó
conmigo sin importarle sus propios padres— que no levantó la vista cuando el
último de nuestros hijos se marchó en busca de otro pan para llenar su hambre
atrasada, única y amarga herencia que les dejamos. Sesenta años que me costó
envejecer, con el sufrimiento en cada arruga, en cada surco de mi cara,
terribles años de desesperanza que consumieron la luz de mis ojos y la alegría
de mi risa. Tantos años que los creía sólo míos y viene este jovencito, con su
cámara fotográfica y sin pedir permiso se adueña de mis desvelos, de mis
rabias, de mis tristezas. Click, y se apropia, a cambio de nada, de todas las
arrugas de mi rostro.
Tradução:
Vigência
da injustiça
Além
de todas as minhas desgraças hoje faço sessenta anos. Seis décadas sofridas
tentando melhorar minha vida sem nunca ter conseguido um pedaço de terra para
cair morto. Toda essa vida de meus dias escuros gastei trabalhando duro de
estação a estação, sem descanso, fazendo bicos onde podia, sem seguro social
nem sindicato que valha, trabalhando aqui e acolá, em todas as partes e em
nenhum lugar. E olhem os meus filhos, os pobres! Só Deus sabe por onde eles
andam. Eles se cansaram de comer o seu diário prato de angústia e simplesmente
se foram, sem despedidas nem abraços, se foram. As lágrimas da minha mulher se
secaram e a pele dela se converteu em um duro e seco pergaminho de cordeiro.
Ficou tão vazia – aquela que um dia fugiu comigo sem se importar com seus pais
– que não fez vista grossa quando o último de nossos filhos foi embora em busca
de outro pão para saciar sua fome atrasada, única e amarga herança que lhes
deixamos. Sessenta anos que me custou envelhecer, com o sofrimento em cada
ruga, em cada linha do meu rosto, terríveis anos de desesperança que consumiram
a luz dos meus olhos e a alegria do meu sorriso. Tantos anos que acreditei
serem só meus e me vem este jovem, com sua câmera fotográfica e sem pedir licença
se apossa das minhas desilusões, das minhas raivas, das minhas tristezas.
Click, e se apropria, em troca de nada, de todas as rugas do meu rosto.
Tradução coletiva: Prof. Pedro Granados, Emanuely Duarte, Izabela Fernandes e Jazmin Gutierrez.
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